Fintechs e Projetos de Impacto Social: uma questão de sobrevivência

Entenda porque as empresas estão investindo em projetos de impacto social e conheça o panorama da relação com as fintechs no Brasil

Por que empresas investem em projetos de impactos sociais? Por que, cada vez mais, parece consensual a insuficiência de vender um produto e serviço e crescente importância de encarar as questões sociais e políticas que nos rodeiam? Essas duas perguntas, encontram resposta na mesma demanda, que vem de quem mais importa: os clientes.

76% dos brasileiros afirmam que suas decisões de compra sofrem influência dos valores que uma marca tornam público. Os dados são de uma pesquisa global da Accenture que entrevistou 1.564 pessoas no país. O Ideas by We traz para você um panorama da relação entre fintechs e projetos de impacto social: onde estamos e onde podemos chegar.

Fintechs e Projetos de Impacto Social: qual a relação?

A relação entre fintechs e projetos de impacto social poderia ser resumida em um número: 45 milhões. Essa é a quantidade de brasileiros adultos desbancarizados — ou seja, sem conta em nenhuma instituição financeira ou inativos há, pelo menos, seis meses. 

Esse número —  que representa 29% da população adulta do país — merece ser complementado por um outro: 800 bilhões de reais. Essa é a estimativa do Instituto Locomotiva de quanto dinheiro esse grupo movimenta por ano. O Brasil ainda tem uma parcela gigantesca da sua população economicamente ativa afastada de qualquer forma de acesso ao crédito. As mais famosas entre as fintechs nacionais, como o Nubank, não escondem o interesse nesse público e a certeza do espaço para crescer.

Sem acesso nem mesmo ao microcrédito, essas pessoas se vêm impossibilitadas de empreender e levam anos para juntar o dinheiro necessário para alcançar até mesmo bens de consumo básico, como eletrodomésticos. Criar condições para integrar essa massa de pessoas ao sistema financeiro passa a ser visto no setor não mais como mera oportunidade de mercado, mas também uma questão de compromisso social.

Impacto social de um projeto

É impossível falar de sistema financeiro e impacto social sem falar de Muhammad Yunus — economista, professor universitário e fundador do  Grameen Bank, em Bangladesh, destinado à concessão de microcrédito para mulheres em situação de pobreza. Sem contratos ou bens de garantia, o Grameen Bank mantém uma taxa de recuperação acima dos 98% e revolucionou a vida de comunidades pobres no país asiático

Yunus, além de ser premiado com o Nobel da Paz de 2006 e ficar conhecido como banqueiro dos pobres, criou um novo paradigma sobre como instituições financeiras podem causar impacto social legítimo e quebrar o ciclo da miséria. O Brasil também já tem seus ótimos exemplos.

Fintechs no Brasil

O Banco Maré é uma das histórias mais famosas quando falamos de fintechs brasileiras e impacto social gerado. A startup nasceu da percepção de que os 130 mil moradores das 17 comunidades do Complexo da Maré não contavam com nenhuma agência bancária, pública ou privada.

A partir de um app, os moradores trocam reais por uma moeda virtual e podem usar o aplicativo, por exemplo, para pagar contas sem precisar se deslocar até outros bairros. Tudo criptografado por blockchain. O projeto, hoje, já atingiu outras comunidades, está também em São Paulo e recebeu apoio da Cubo Itaú. 

Outro case nacional interessante, a Cecoin também direcionou seus esforços para o público desbancarizado ou sub-bancarizado. Por meio de agentes físicos — pequenos comerciantes, motoristas de aplicativo — o usuário pode comprar créditos e pagar contas e recarregar o celular pelo aplicativo. Os agentes, em troca, recebem uma comissão e, no caso dos comerciantes, atraem clientela para os seus negócios. 

Que tipo de retorno a empresa pode esperar?

Uma ideia, hoje já superada, é que negócios de impacto social não seriam, ou não poderiam ser, lucrativos. Projetos que causem impacto social e tenham a capacidade de gerar dividendos têm o potencial de atrair investimentos, escalar suas soluções e impactar mais pessoas. 

Por cima disso, os cases já consolidados no ecossistema brasileiro de startups e as pesquisas a respeito mostram todo o potencial econômico daqueles excluídos do sistema financeiro. O público desbancarizado movimenta ativamente a economia e é onde as fintechs têm maior potencial de atingir novos clientes. 

Em outra frente, investir em projetos de impacto social dialoga com o branding e, com isso, atinge todo o universo da percepção que uma marca causa nas pessoas. Esse é um retorno que pode ter algo de intangível à primeira vista, mas pode tanto ser metrificado (com pesquisas), quanto gerar resultados diretamente na receita.

Como fazer um investimento estratégico nessa área?

Existem algumas maneiras diferentes de investir em impactos sociais. É claro que a primeira é criando projetos na área e investindo em produtos e soluções que atinjam positivamente as camadas mais pobres e da população. Muhammad Yunus defende o acesso ao crédito como um direito básico e essa é uma filosofia que pode permear quem deseja olhar para o que as financial techs podem fazer pela luta contra a pobreza por aqui ou onde for. 

Outra opção é investir em projetos que já impactam positivamente as comunidades em que atuam; acelerando-as, participando de rodadas de investimento ou oferecendo algum tipo de suporte técnico ou logístico que é impeditivo para os seus crescimentos. Por fim, o mercado já conta hoje com fundos de investimento voltados para impacto social, com opções tanto para pessoas físicas quanto jurídicas.
O Brasil é hoje um país que tem muito mais gente com smartphones no bolso do que conta em bancos — ou em relação com outros serviços financeiros e/ou acessos a crédito. Essa combinação é o terreno perfeito para que fintechs e projetos de impacto social deem as mãos.

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